Dor
Tão objetiva e tão subjetiva a dor perpassa pela vida do
sujeito de variadas formas, com toda complexidade que um tema possa ter.
Nestes anos de escuta, seja entre amigos, pacientes e
familiares há uma peculiaridade em cada discurso acerca da dor. Nas suas
variações decorrentes da história de cada indivíduo, a dor pode se apresentar como
uma dor física, psicológica, social, espiritual ou, como bem descreveu Cicely
Saunders, uma
somatória de todas as outras, denominada de Dor Total.
Uma reflexão mais sensível acerca dessa temática ganha
relevância na medida em que nos vemos imersos na aceleração da
contemporaneidade, de modo que, ao
correr contra o tempo, acabamos por tamponar nossas emoções. É o que Zygmung Bauman
reconhece como “mal-estar da pós-modernidade”. Nesse círculo não virtuoso, o
“mal-estar” assume em nossas vidas com uma Dor subjetiva, sem uma justificativa
aparente.
Nas reflexões acerca da dor, o que chama atenção é que, quando
o ser humano a ignora e tenta racionalizar sua existência, passa a ficar mais distante
de resolvê-la. Fazemos o caminho inverso: em vez de procurarmos mergulhar, entender,
compreender e acolher o problema da dor, terminamos negando-a para nós mesmos, escolhendo
não a confrontar e a colocamos em lugares tão secretos que fica difícil de
acessar.
Refletindo sobre várias razões que podemos encontrar acerca
da Dor, uma é interessante pensar: a dor, muitas vezes, pode estar relacionada
a uma não aceitação das coisas. Tudo que vai ao desencontro dos nossos desejos,
causa uma imensa dor. Querer ter o controle de tudo, a sensação que tudo estar
sob nosso domínio é o que desejamos, porém, constatamos que “não temos o
controle de nada”, esse pensamento “irreal” é causador das dores mais profundas
da alma.
Se pudéssemos colocar na vida um pensamento flexível, de
continuarmos no movimento e na ação e flexionássemos o pensar acerca dos
acontecimentos da vida, estaríamos eliminando muitos conflitos existenciais.
E como seria possível? Um exercício muito interessante é
como se pudéssemos nos imaginar como espectadores das nossas próprias
experiências e pudéssemos refletir acerca da cena vivida por nós mesmos. Qual
reflexão ou sugestão você daria para aquele contexto? Se atentando que essa
reflexão estaria desprovida de qualquer juízo de valor, teríamos a oportunidade
de poder olhar sob vários ângulos, possibilitando, assim, enxergar saídas nunca
antes vistas.
Nos vários “pântanos” existenciais que passamos nunca
podemos perder de vista que sempre nos é dado uma “lamparina” para nos guiar nessas
difíceis caminhadas.
A dor possui uma força tremenda, um dos diversos caminhos existentes
seria o de cuidar e de dar voz a ela, perguntar o porquê e para quê. Ter uma conversa intima e assim, quando ela
exaurir todas suas razões, perderá a intensidade e força, dando lugar a um
outro momento: de quietude, de paz e de ressignificação. É possível, sim. Basta
acreditar!
Autora:
Elisangela Andrade – Psicóloga Clínica (CRP 03/20114)
Tel.
(71) 99933-1632